sexta-feira, 19 de julho de 2013

O dia que Garopaba se despediu de Luiz Nestor

Foto: Maurício Dapper.


O prefeito reeleito com maioria absoluta dos votos em 2012 faleceu na madrugada da última sexta-feira, 12.
A maioria dos garopabenses saiu de casa e invadiu o Salão Paroquial da Igreja Matriz na última sexta-feira, 12. O motivo que fez a cidade parar foi a morte do prefeito Luiz Carlos Luiz. E as demonstrações de solidariedade, afeto e dor, tanto pelo representante do executivo quanto pela família, foram inúmeros, inundando o dia que Garopaba nunca viu em sua história: se despedir de um prefeito em exercício.
A notícia do falecimento de Luiz Nestor espalhou-se pela cidade logo após a confirmação do óbito, antes mesmo da uma hora da madrugada. O pano preto pregado na porta do prédio da Prefeitura estampou o luto oficial de três dias decretado para a cidade.
Trabalhadores, aposentados, crianças e estudantes, familiares, amigos e aliados e adversário políticos. Uma camada heterogênea da cidade debruçou-se em lágrimas ao longo do dia, vivendo um turbilhão de sensações e emoções.
Luiz Nestor foi homenageado através de banners espalhados pelo Salão, durante o velório, com fotos de Luiz Líder, Luiz Amigo, Luiz Prefeito e Luiz Família, além de outros formatos de homenagens.
- O Luiz foi um grande servidor. Que ele possa interceder pela cidade, independente de direção – disse o Padre Alceoni Berkenbrock, ex-pároco da cidade, durante a homilia na celebração de corpo presente.
A missa aconteceu as 15h30min na Igreja Católica. Em cortejo memorável, com um número incontável de garopabenses, o corpo do Prefeito visionário foi levado ao Cemitério Público Municipal, onde foi sepultado.

Luiz Nestor família

Neto de agricultor, filho de construtor e, sobretudo, guerreiro na batalha da vida, Luiz Nestor foi mestre na arte de fazer política. Foi exemplo de quem saiu de Garopaba em busca de melhores oportunidades, aplicando todo o aprendizado na cidade que tanto amou.
Luiz Carlos Luiz nasceu no dia 14 de dezembro de 1966. Filho de Maura de Abreu Luiz e Manoel Nestor Luiz. O casal teve outros cinco filhos, além de Luiz: Carlos de Abreu Luiz, Ângela Luiz Nascimento, Maria Alice Malinoski, Dilceia de Abreu Luiz Moreira e Rosane de Abreu Luiz. Todos foram criados em Garopaba e saíram da cidade apenas para estudar.
Nestor teve apenas um filho, Luiz Carlos Luiz Júnior, fruto do seu primeiro casamento. Tempos mais tarde, firmou um relacionamento promissor com Micheline Aranha de Araújo, com quem permaneceu casado até os últimos dias de vida e apadrinhou como filha do coração a enteada Luma Araújo.

Luiz Nestor profissional e político
Empreendedor, Secretário de Turismo de Garopaba, presidente da ACIG e Diretor do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura do Governo do Estado). Foram estas as principais funções públicas que Luiz Nestor exerceu antes de ser Prefeito de Garopaba. Estudou seis semestres do curso de Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, em Florianópolis. Depois disso, voltou a Garopaba para fundar uma empresa com a família.
Assumiu a função de presidente da Associação Empresarial e Comercial de Garopaba por dois anos. Na administração do Prefeito Ari Osvaldo Sanseverino, o “Vadinho”, foi Secretário de Turismo. E foi neste período que aflorou a vontade de querer ser Prefeito de Garopaba. Sempre filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB, Nestor enfrentou a campanha eleitoral a partir de 2000. Na primeira oportunidade, alcançou um número referente a 15% da votação. Em 2004, faltaram mil votos para que chegasse a ser eleito. Mas com persistência, em 2008 foi eleito prefeito, com mais de mil votos de diferença. E em 2012, teve mais de sete mil votos na reeleição.

A doença

Em 2009, logo que assumiu o primeiro mandato de administrador de Garopaba, Luiz Nestor se deparou com um problema de saúde. Em janeiro daquele ano foi internado na UTI do Hospital Socimed, em Tubarão, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Na época, Luiz Nestor foi submetido a uma cirurgia neurológica, onde foi retirado um pequeno segmento do córtex cerebral, que foi acometido pelo AVC. E na sequência retornou aos trabalhos frente à Prefeitura. Ao longo do primeiro mandato, lutou contra a doença.
Em 2012, ele foi diagnosticado com câncer no cérebro deixando ele afastado da Prefeitura desde o dia 03 de maio. Desde então fez diversos tratamentos. A batalha foi enfrentada com garra, numa verdadeira demonstração da vontade que tinha de viver. Logo após a vitória esplendorosa e esmagadora, com mais de sete mil votos totalizados, Luiz Nestor iniciou um tratamento forte para combater a doença. E os primeiros meses do segundo mandato se resumiram na tentativa de se fortificar para voltar a liderar a cidade.
Entre idas e vindas para o hospital, Luiz se despedia, lentamente, da cidade que tanto amou e visou progresso. Mas no dia 15 de junho retornou ao Imperial Hospital de Caridade, em Florianópolis, onde permaneceu por quase um mês. E nos primeiros minutos de 12 de julho, constatou-se o óbito.

Missa de sétimo dia

A missa de sétimo dia do Prefeito Luiz Nestor irá acontecer no próximo sábado, 20, na Igreja Católica, as 19h30min.
 
Heloiza Abreu
Reportagem especial publicada na edição 251 do Jornal da Praia Garopaba

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O poeta que se apaixonou por Garopaba


João Batista Rezende, 57, gaúcho, é autor do livro Lugar de Barcos, lançado em maio deste ano

Por trás de fios de cabelos grisalhos há um poema ou uma poesia. Seria ainda mais coerente dizer que por trás de tudo o que João Batista Rezende diz ou pensa há um poema ou uma poesia. Gaúcho, radicado em Garopaba há mais de trinta anos, o homem que chegou na cidade junto com o turismo hippie é autor do livro Lugar de Barcos, que em Guarani significa Ygarampaba, ou Garopaba.

Intercalado com textos de Fernando Pessoa e Henrique do Valle, entre outros autores renomados do Brasil e do mundo, Rezende busca retratar a realidade de sua vida e da pequena cidade, há poucos anos ainda vila de pescadores. Retrata pessoas e momentos. Fala, por exemplo, do grande pescador garopabense, Sebastião, o chamando de Mestre e demonstrando saudades do primeiro amigo feito na terra eleita para morar.

Lugar de Barcos foi lançado na 2ª Feira do Livro, realizada na cidade desde 2012. Para dar corpo ao sonho vivo do autor houve a colaboração do desenhista da cidade, Licínio, além da organização e design do historiador Fernando Bittencourt, representante do Movimento Açoriano de Resgate – MARÉ.
- Tem de tudo aí, pra fazer uma homenagem ao lugar que eu amo – descreveu João Batista Rezende, sobre o livro.

O poeta

Autodidata, ex-funcionário de rádio, TV e jornais impressos, integrante do Círculo do Livro de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, João Batista Rezende nasceu em 11 de fevereiro de 1956, na cidade de Restinga Seca, na época pertencente à cidade de Santa Maria. Aos dois anos se mudou, junto à família, para a capital gaúcha, onde viveu até os 12, quando ficou órfão de mãe. Na ocasião, foi morar em Cachoeirinha do Sul com os avós maternos e a única irmã. E o hábito da leitura surgiu ainda na infância.

- A minha televisão eram os livros. Porque naquela época ainda não existiam os aparelhos – lembrou Rezende.

Por volta dos 17 anos começou a se interessar por arte. Foi quando manteve um círculo de amizade rico em cultura. Eram quatro amigos: os gêmeos Tiaraju e Ubiratan, artistas plásticos e bonequeiros; Eduardo Vieira da Cunha, artista plástico; e o agora garopabense.



Rezende é filho de cantora e integrante de grupo de teatro religioso e neto de pianista e de professor de Xadrez. Foi, inclusive, um dos precursores do Rock’n Roll na cidade de Porto Alegre, sendo mascote da banda Tim Top’s, liderada por Gerry Marquêz, Kiko e Renato Chaves. Além disso, ajudou a fundar o grupo de teatro Ói nóis aqui traveiz, inspirado no disco Demônios da Garoa, de propriedade do diretor do grupo, Paulo Flores.

Heloiza Abreu
Matéria publicada na edição 250 do Jornal da Praia Garopaba.