História: embarcação foi encontrada, após ressaca,
nesta semana enterrada na areia da praia do Centro
![]() |
Foto: Alan Pedro |
Pescador das antigas, daqueles
com memória de elefante. Nascido no “primeiro sete de 1918”, ou seja, 7 de
janeiro, Teodoro Soares de Souza lembrou nesta semana, aos 94 anos, de um
episódio que viveu na juventude. Na última segunda-feira, 27, um dos filhos o
abordou e contou da aparição de uma embarcação enterrada na areia da praia do
Centro de Garopaba. Ela estaria situada em diagonal, próximo à beira. A
lembrança surgiu, pois há cerca de 70 anos outra ressaca teria feito aparecer
parte deste mesmo barco, com cerca de 20 metros de comprimento. E ele, que se
denomina curioso, questionou os conhecidos mais velhos sobre o assunto.
As recordações, segundo Sr.
Teodoro, são semelhantes ao que aconteceu nesta semana. Lembra-se que pedaços
do barco teriam se soltado, como as cavernas – uma espécie de costela do barco
– e os pescadores teriam retirado do local. Porém, a aparição teria sido menor
e por menos tempo.
- Eles também levavam pedaços de
cobre que era tipo um revestimento do barco – lembrou.
A notícia de que a ressaca teria
cavado os arredores do barco e levantado dúvidas sobre o encalhe na praia
intrigou pescadores, moradores e, principalmente, Sr. Teodoro. Orgulhoso por
lembrar detalhes da primeira vez que o viu, arrisca a dizer que deve estar
enterrado no local há muitos anos.
- Eu perguntei para o Sr.
Procópio, um pescador da época, e ele me disse que o barco veio com uma
tempestade. Mas não disse quando veio. Acho que deve fazer muito mais que 150
anos – contou.
A estimativa de Sr. Teodoro se
aproxima da que o historiador Fernando Bittencourt aponta. Estudioso sobre
Garopaba supõe, ao observar os detalhes das madeiras retiradas da água, que se
trate de um dos Bergantins, os barcos que eram utilizados para fazer o
transporte de óleo de baleia no período das armações baleeiras, neste caso entre
a Ilha de Desterro, Garopaba, Imbituba e Laguna.
Explica que este Bergantin deveria
estar em más condições e, com a falência da armação, entre 1830 e 1845, tivesse
sido deixado junto ao cemitério de ossos de baleia que havia na própria praia.
Este fator, ainda de acordo com o historiador, justificaria o fato de os
destroços estarem rodeados dos vestígios do mamífero então caçado na região.
- Pela estrutura e estado da
madeira, que deveria ser muito boa, o barco é bem antigo. De acordo com o que
pude observar, se for de fato do período da Armação Baleeira, deve ter uns 200
anos – pontuou.
É hora de cavar a história...
Com os moradores de Garopaba
mobilizados após a aparição do barco enterrado na areia, a Secretaria de
Turismo pretende facilitar o estudo do caso. Universidades deverão ser
contatadas para levantar informações sobre a história da embarcação.
Heloiza Abreu
Matéria publicada na edição nº 19 do Jornal Impresso Catarinense.