quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Um feriado de prévias, para o bem ou para o mal

Muita agitação e gente bonita para levantar o astral de Garopaba que até então estava devagar, quase parando. E não era para menos. É a característica normal da cidade durante os meses fora da alta temporada. Para muitos, esta foi a maior prova de que o verão será bombástico.

De dezembro a março. Sim, este será o nosso verão. O carnaval vai ser bem tarde e vai permitir que todo mundo descanse e aproveite bastante. Ou não, até mesmo porque as aulas começarão cedo em função da Copa do Mundo.

Mas uma coisa gerou grande preocupação: o saldo policial negativo. Não se refere aqui ao trabalho dos policiais, mas às ocorrências policiais. Somente da noite de sexta-feira, 15, até segunda-feira, 18, foram três acidentes de trânsito, sendo um com vítima fatal. E arrombamentos foram dois só no domingo, 17.

Este tema pautou grupos de estudantes, moradores e até mesmo os políticos. A preocupação foi para a situação da Rodovia SC 434, tendo em vista que os três acidentes aconteceram ao longo deste trecho.

No ano passado discutia-se a revitalização da rodovia estadual. Uns desejavam com muito entusiasmo, vendo a necessidade do mesmo. Outros diziam que deveria ser diferente. Mas independente da razão porque não saiu a revitalização, a realidade é esta: a SC 434 permanece em péssimas condições.

Falta de acostamento e buracos são os principais déficits da rodovia. Mas será que este é o maior problema mesmo? Pode ser injusto colocar a culpa de tantos acidentes na rodovia, que nem é um ser vivo, logo não pensa, não raciocina.

Outro questionamento: será que a solução não seria também a tomada de consciência das pessoas quanto ao ato de dirigir? (Isto não quer dizer que a revitalização da SC 434 não seja necessária). E esta pontuação não coloca todos os envolvidos com acidentes como culpados ou vítimas. A ideia, no entanto, é a reflexão. É comum ouvirmos das mães que muitas coisas ruins podem ser evitadas. Será que este ditado tão repetido por elas não pode ser aplicado para o trânsito também?

Beber e pegar um taxi, eleger o motorista da rodada e ter mais atenção enquanto se está dirigindo são boas ações para evitar acidentes de trânsito. Ah, e na pior das hipóteses, em caso de acidentes, não se esqueçam das regrinhas que as auto escolas ensinam: prestar socorro é obrigação do motorista!

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O dono da sanfoninha

De família circense, o Jornalista Mário Motta se destacou nas atividades humanas e de liderança e hoje é um dos maiores nomes da comunicação em Santa Catarina

Tudo começou num olhar discreto e criativo para aquilo que tendia a ser o mais iluminado e interativo de todos os ambientes. Onde os palhaços inspiram risadas e os trapezistas esbanjam espetáculos, formou-se o dono da sanfoninha. O menino que nasceu junto com o grupo circense, em 25 de março de 1952, em Santo André, no estado de São Paulo, era filho dos donos, os veteranos artistas do rádio paulista, Mário Pinto da Motta e Nair de Campos Motta, conhecidos como Motinha e Nhá Fia.

O circo que levava o apelido dos pais de Mário Pinto da Motta Júnior foi a maior faculdade de vida do pequeno artista. Com o grupo, e o irmão mais novo Gilberto Motta, que viajou o Brasil por quinze anos, o menino teve seu primeiro número nos espetáculos definido a partir dos quatro anos, quando ganhou uma sanfoninha de quatro baixos, fabricada em Santa Catarina.

Dividindo o estudo primário nas escolas das cidades que passava, o garoto do circo chegou a trocar de escola quinze vezes por ano. Foram mais de quatrocentas cidades visitadas durante este período. Mas diante da necessidade de se dedicar aos estudos, a família largou as atividades circenses e fixou residência em Tupã, também em São Paulo. E foi justamente na mesma época que a família adquiriu um hotel que seria a fonte de trabalho por muito tempo.

Do circo para o esporte e a imprensa

O contato com as pessoas parecia se tornar ainda mais necessário para Mário. Na Escola Superior de Educação Física da Alta Paulista, o garoto que recém havia saído do circo integrou a primeira turma de formandos daquela instituição no ano de 1973. E, em 1974 foi convidado para lecionar na segunda turma do curso, sendo escolhido Patrono da turma.
Ainda em Tupã, o pai voltou para as ondas do rádio. Por um hobby, apresentou o programa “No tempo do Motinha”, que trazia as músicas da então velha guarda para o público. Nesta oportunidade e diante das visitas aos estúdios, Mário começou a gravar comerciais e se identificar com a atividade radiofônica.

Em 1974, Mário se mudou para a região serrana de Santa Catarina, fixando residência por dois anos na cidade de Lages. Aprovado em um concurso público em São Paulo, Mário Motta deixou as atividades no estado catarinense no início de 1977.

Foi lecionar Educação Física em Mauá. Na mesma época treinou a equipe masculina de Voleibol do Clube de Regatas Tietê de SP. E para não ficar distante da comunicação, integrou a equipe esportiva da Rádio Emissora ABC de Santo André.

Após rápido retorno à Tupã para acompanhar os últimos meses de vida de seu sogro que faleceu em seguida, voltou a trabalhar agora como Diretor Artístico, na emissora onde havia iniciado sua carreira, a Rádio Piratininga. Mas, Mário continuava insatisfeito por ter deixado Lages, cidade pela qual teve tamanha paixão despertada. E após receber inúmeras propostas de trabalho, retornou para Santa Catarina no final do ano de 1980. E desde que retornou à Lages no início dos anos 80 decidiu priorizar a carreira jornalística transformando-se num dos mais renomados comunicadores da imprensa catarinense.

Já em Santa Catarina, liderou a TV Planalto, afiliada do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, sendo o coordenador de jornalismo da sucursal da capital, Florianópolis, inaugurada no mesmo período.

Poucos meses depois, diante do destaque que obteve nos trabalhos, foi convidado para trabalhar na RBS TV, afiliada da Rede Globo de Comunicações no Estado.

A família

Há 37 a também professora de Educação Física e artista plástica Glória Lúcia Caetano Corrêa Neto Motta, curiosamente filha de jornalista, é parceira de Mário Motta nesta longa e brilhante jornada. E para se complementarem por definitivo tiveram dois filhos, Mário Aleixo, 35, e Maria Carolina, 33, ambos bacharéis em Turismo e Hotelaria.

Mas afinal, quem é o dono da sanfoninha na imprensa catarinense?

Mário Motta é um dos grandes nomes da imprensa catarinense. Há 27 anos é âncora do Jornal do Almoço, na RBS TV. É há 17 locutor e comentarista da Rádio CBN Diário. Além disso, escreve para jornais que pertencem ao Grupo RBS, como o Hora de Santa Catarina. Mediou grandes e importantes debates políticos, coberturas de eleições, carnavais e os mais variados eventos no Estado. E até hoje continua dedilhando o teclado de sua estimada companheirinha de quatro baixos. Agora como hobby, é claro.


Matéria feita para publicar no Jornal Extra, que é elaborado pelos acadêmicos do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da UNISUL de Tubarão.
Esta mesma matéria precisou ter a quantidade de caracteres adaptado para ser inscrita no PLUS Festival, o festival acadêmico da mesma universidade. E foi premiado na categoria Reportagem Impressa .

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Eu gosto de brincar

Foto: Divulgação/Google

Já se passava das nove horas da noite. Uma quarta-feira fria daquele período de novembro que não sabia se esquentava ou esfriava. Em casa parecia ser quente. Mas na rua o calafrio apertava. O interfone da minha casa tocou e eu atendi. Em uma voz que não me permitia entender se era um adulto ou uma criança ouvi: “Você tem um cobertor para me dar?”. 

Na frente da Nossa Senhora Peregrina que visita as casas da cidade, minha mãe me mandou dizer para que a pessoa aguardasse ela. E ao chegar na frente da casa se deparou com uma criança. Com cabelos meio arrepiados e negros, olhos que nem eram puxados como de um japonês ou chinês – eu tenho dificuldade para diferenciar um do outro – nem redondos como de um ocidental, um menino de dez anos rapidamente relatou era de família indígena e estava com a mãe e mais dois irmãos – um de dois anos e outro de dois meses – dormindo nas ruas da cidade. Eles queriam um cobertor para se tapar durante aquela noite.

O menino entrou. Minha mãe o serviu. E numa breve fala me disse o nome que eu rapidamente esqueci. Apeguei-me mesmo foi ao que ele me contou sobre sua vida. Em rápidas e curtas frases ele disse que gostava de estudar Português e Matemática. E falou, ainda, que é goleiro do time de futebol da escola. Sobre a família, falou que tinha três irmãos e que todos vivem com a mãe. O pai já faleceu e, segundo o menino, teria sido trabalhando como carpinteiro.

Um aperto tomou meu coração ao escutar isto. E ao mesmo tempo percebi o quão feliz era aquela criança. O garoto é bilíngue, fala Português e Guarani, tribo à qual ele pertence. E na língua materna, me falou sobre sua atividade predileta: “Eu gosto de brincar”.

A tristeza que tomou o meu coração se confundiu com a emoção que senti ao ouvir uma criança aparentemente tão sofrida me dizer que sua felicidade se completa com tão pouco. O pequeno menino me disse que suas brincadeiras são esconde-esconde e pega-pega. Certamente, e mesmo diante da vida que leva, ele é feliz nas pequenas coisas.

Serviu-me de exemplo. Tocou o meu coração. Quem me dera se o mesmo acontecesse, ao menos, com quem lesse este texto. Nunca vou me esquecer daquela frase em Guarani que eu não sei traduzir, mas ele me disse também em Português: “Eu gosto de brincar”.

Heloiza Abreu
Do fundo do meu coração, a partir de uma experiência vivida. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A menina do grupo de teatro

Jandira Bezerra Lima, 83, foi uma das integrantes da Companhia de Teatro Nhana, que chegou a Garopaba em 1978.

Foto: Heloiza Abreu.


Quase oitenta cidades visitadas dos 20 aos 48 anos. Muita encenação acompanhada e vivenciada por trás das cortinas. Jandira Bezerra Lima, hoje aos 83 anos, foi uma das profissionais que integraram a Companhia de Teatro Nhana. E tudo começou no dia 20 de agosto de 1950, data que a memória da paulista de Itapeva trata de não esquecer.

Jandira nasceu no dia 07 de março de 1930. Morou em Itararé dos doze aos vinte anos. E teve a oportunidade de estudar apenas dois anos e cinco meses. Ela trabalhou durante dois anos como secretária de escritório de advocacia e, durante os momentos de folga, participava dos programas de auditório na rádio ao lado do então emprego. Nestas participações, colaborou, entre outras coisas, com a declamação de poesias.

Órfã de mãe desde os 10 anos, a garota resolveu entrar na companhia quando o grupo visitou a então cidade onde ela vivia, Itararé. Na companhia, Jandira pouco interpretou. As principais atividades da moça eram nos bastidores, auxiliando o elenco.

- Eu estava com vinte anos. Nunca quis trabalhar com trapézio e estas coisas. Eu queria era falar bonito e interpretar, porque sempre admirei a arte e a poesia – destacou.

Os colegas da companhia

Uma das importantes colegas de Jandira na jornada da Companhia de Teatro Nhana foi Abigail de Camargo, mais conhecida em Garopaba como vovó Biga. E para a colega dos tempos de trabalho e amiga de uma vida, Jandira só arranca elogios.

- Nós não tivemos na companhia alguém que trabalhasse e interpretasse tão bem quanto a Biga. Ela tem, por exemplo, um choro que invade – lembrou Jandira.

O casamento e a família

Jandira se casou aos 35 anos, quinze anos depois de entrar na companhia. E como não poderia ser diferente, o matrimônio foi estabelecido com um funcionário do grupo. Alfredo de Bezerra Lima, cearense, casou-se com a moça quando ele tinha 54 anos. A união surgiu ao acaso. E contradiz, principalmente, a teoria de que a mulher não pode ter a iniciativa num relacionamento.

- Ele me dava sinais que gostava de mim. Aí eu propus o casamento – lembrou Jandira com um sorriso discreto.

O casamento aconteceu às dez horas da manhã do dia 31 de março de 1965, em um cartório da cidade de Joinville. Juntos o casal teve um filho, Francisco José de Jesus Bezerra Lima. E criaram o pequeno Jorge Luiz Chaves, adotado anos antes por Jandira, aos dois dias de vida.

A chegada e permanência em Garopaba

A companhia chegou a Garopaba no dia 12 de junho de 1978. E na mesma semana, Jandira se recorda que todos os integrantes vieram morar na então vila de pescadores que estava começando a ser desbravada pelos gaúchos. E no dia 04 de setembro do mesmo ano, ela e a família resolveram se desligar da companhia.

- Quando eu disse “Vamos parar, meu velho?” ele me perguntou “E viver de quê?” – comentou.

Então o casal montou uma pastelaria em Garopaba que se chamava Bom Jesus e ficava situada no Centro Histórico, local onde havia maior concentração de pessoas na época. Quatro anos depois resolveram encerrar as atividades. E Jandira trabalhou no restaurante Rancho da Vovó que funcionava da cidade. E poucos anos depois obteve a sua aposentadoria.

A vida atual

O esposo de Jandira, Alfredo, faleceu aos 85 anos. E a jovem senhora com memória minuciosa permanece vivendo na cidade litorânea escolhida pelo coração como terra para estabelecer o restante da vida.

As peças que escreveu

Jandira é autora de duas peças de teatro. A primeira foi em homenagem a São Francisco de Assis, para a inauguração da Igreja que leva este nome e fica na comunidade de Areias de Macacu. A segunda, por sua vez, foi O Milagre da Páscoa, utilizada durante uma das celebrações da Paixão de Cristo.

Lembrança e gratidão

Jandira viveu durante praticamente toda a juventude com o grupo. E tem orgulho do trabalho que executou e do período em que permaneceu com a equipe.

- O que me orgulha mesmo é ter ficado 28 anos na mesma companhia e parar numa cidade que graças a Deus nada me falta. Eu vivi a minha juventude com o grupo e aprendi muito. Tive muitos momentos bons e ruins, mas fui feliz. Todo pé de rosa não tem só flores, também tem espinhos, e é lindo – finalizou Jandira.


Heloiza Abreu
Matéria publicada na edição 266 do Jornal da Praia Garopaba.