quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A lembrança de quem vive por Garopaba

Fotos: Heloiza Abreu
 Aquela que até poucas décadas era apenas uma vila de pescadores com menos de cinco mil habitantes é a marca registrada de muitas pessoas. São aqueles que sempre se doaram pela cidade. São pessoas que têm seus nomes grifados na história da enseada dos barcos, que tem o nome de origem indígena.

Um dos maiores pescadores de baleias de Garopaba ainda vivo é uma destas pessoas. Setembrino Santos, aos 97 anos, recorda-se da cidade quando ele era criança, depois quando foi um dos grandes nomes da pesca artesanal e compara com a que é hoje. Naquela época, seu Bino, conforme é chamado, morava na encosta do morro que cerca a Praia do Centro. Lá mesmo ele chegava a pescar quase cinco quilos de peixe por dia, somente deixando a tarrafa aberta na água.

- O que eu não vejo mais aqui em Garopaba é peixe. Os coitados (pescadores) não veem mais peixe. Antes tinha mais fartura – conta após buscar na memória as imagens dos grandes lances de peixe que aconteciam na cidade.

Na época em que pescava baleia, seu Bino lembra que as grandes mamíferas do mar chegavam muito perto da praia e por ali ficavam durante algum tempo.

- As baleias vinham a uns cem ou duzentos metros da praia e ficavam ali duas ou três brincando – comenta.

As mesmas lembranças que emocionam seu Bino também fazem os olhos de Olga dos Santos brilhar. Aos 90 anos recém completados, dona Olguinha, conforme é conhecida, foi responsável pelo nascimento de mais de quinhentas crianças em Garopaba. Durante vinte anos ela foi parteira, atividade que aprendeu com a tia e passou a realizar por amor.

- Olha que passou criança pela minha mão. Nunca morreu nenhuma mãe nem filho – contou.
Ela viajava de um bairro para o outro a pé. A distância se tornava enorme porque dona Olguinha se deslocava sozinha e, muitas vezes, à noite. A condição econômica da maioria das pessoas naquela época não permitia que a mulher fosse remunerada, mas era a satisfação que ela tinha quando via a criança chegar ao mundo a maior recompensa.

- Eu fazia pelo sentimento que tinha de fazer o parto. O sentimento é um segredo que eu guardo comigo, porque prometi pra minha tia que não ia contar para ninguém – declara.

Hoje, seu Bino e dona Olguinha, ambos residentes do Centro Histórico, celebram junto com todos os moradores os 52 anos de emancipação política e administrativa de Garopaba. Mas neste dia 19 de dezembro, muito mais do que o desmembramento da cidade da antiga comarca, Palhoça, celebra-se a história que cada um dos garopabenses ajudou a escrever, conforme é o caso deste antigo pescador e daquela que viu muitas crianças nascerem.

O aniversário da cidade
Os 52 anos de emancipação política e administrativa de Garopaba foram celebrados nesta quinta-feira, 19, na Câmara de Vereadores. Na ocasião foram homenageados garopabenses nativos que colaboraram para que a história da cidade fosse escrita. Um exemplo foi o ex-prefeito Luiz Carlos Luiz que faleceu em julho deste ano.


Matéria publicada na edição 273 do Jornal da Praia Garopaba.

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