segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Velha e doce história

Relíquia: último engenho de açúcar de Garopaba repassa a antiga cultura para as atuais gerações


Já se passaram mais de 150 anos que Francelino Batista iniciou as atividades num pequeno espaço construído de madeira antiga, daquelas bem resistentes, no alto do morro do Macacu. Era lá que funcionaria o engenho de açúcar considerado em 2012 o único seguidor da respectiva cultura em Garopaba.
Depois que faleceu, foi Manoel Francelino Batista, filho dele, quem deu continuidade ao trabalho. E hoje, é o neto de Francelino, Antônio Manoel Batista, aos 59 anos, o principal transmissor desta história para as gerações recentes, e que trata de ensiná-la aos seus filhos e netos.
Depois da temporada das fornadas de farinha de mandioca começa a produção de açúcar e derivados, em agosto. E é ai que Antônio e os filhos começam o trabalho de produção de caldo de cana, melado, açúcar e muitas outras delícias a partir da cana-de-açúcar.
Bem tapados os olhos dos dois fortes bois, escolhidos com precisão, é hora de Sr. Antônio dar o sinal para o gado girar ao redor da moenda e espremer a cana. O caldo passa por um filtro natural, feito de “barba de velho” e depois é levado para um enorme forno de cobre para ser fervido de fazer o melado. E a partir daí outras delícias são produzidas: o puxa-puxa e açúcar mascavo, por exemplo.
Toda a produção é realizada ao longo de um dia. Por isso a família escolhe os finais de semana, a começar nas sextas-feiras, para dar início ao trabalho, que para eles é uma verdadeira diversão.
- A minha tradição é a roça, desde o tempo do meu pai. É um prazer que tenho continuar vivendo e trabalhando aqui – ressalta o produtor.
Para preparar o açúcar mascavo demanda mais tempo, segundo Sr. Antônio. É preciso reservar o melado em balaios, durante cerca de dois meses, para que fique seco. Somente depois passará por outros procedimentos e será deixado pronto para consumo.
Não é o cansaço dos braços de Sr. Antônio, que cortou muita cana ou, até mesmo, sovou mandioca nas grandes fornadas de farinha nos mais de cinquenta anos de trabalho no engenho que o preocupam de verdade. É saber que quando ele largar a atividade, poucos se interessarão.
- Os meus filhos sabem fazer isso, mas o jeito de viver lá fora é mais fácil. A hora que eu largar isso pode acabar – lamenta.


Heloiza Abreu
Matéria publicada na edição nº 17 do Jornal Impresso Catarinense.

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