Relíquia: último engenho de açúcar de Garopaba repassa
a antiga cultura para as atuais gerações
Já se passaram mais de 150 anos
que Francelino Batista iniciou as atividades num pequeno espaço construído de
madeira antiga, daquelas bem resistentes, no alto do morro do Macacu. Era lá
que funcionaria o engenho de açúcar considerado em 2012 o único seguidor da
respectiva cultura em Garopaba.
Depois que faleceu, foi Manoel
Francelino Batista, filho dele, quem deu continuidade ao trabalho. E hoje, é o
neto de Francelino, Antônio Manoel Batista, aos 59 anos, o principal
transmissor desta história para as gerações recentes, e que trata de ensiná-la
aos seus filhos e netos.
Depois da temporada das fornadas
de farinha de mandioca começa a produção de açúcar e derivados, em agosto. E é
ai que Antônio e os filhos começam o trabalho de produção de caldo de cana,
melado, açúcar e muitas outras delícias a partir da cana-de-açúcar.
Bem tapados os olhos dos dois
fortes bois, escolhidos com precisão, é hora de Sr. Antônio dar o sinal para o
gado girar ao redor da moenda e espremer a cana. O caldo passa por um filtro
natural, feito de “barba de velho” e depois é levado para um enorme forno de cobre
para ser fervido de fazer o melado. E a partir daí outras delícias são
produzidas: o puxa-puxa e açúcar mascavo, por exemplo.
Toda a produção é realizada ao
longo de um dia. Por isso a família escolhe os finais de semana, a começar nas
sextas-feiras, para dar início ao trabalho, que para eles é uma verdadeira
diversão.
- A minha tradição é a roça,
desde o tempo do meu pai. É um prazer que tenho continuar vivendo e trabalhando
aqui – ressalta o produtor.
Para preparar o açúcar mascavo
demanda mais tempo, segundo Sr. Antônio. É preciso reservar o melado em
balaios, durante cerca de dois meses, para que fique seco. Somente depois
passará por outros procedimentos e será deixado pronto para consumo.
Não é o cansaço dos braços de Sr.
Antônio, que cortou muita cana ou, até mesmo, sovou mandioca nas grandes
fornadas de farinha nos mais de cinquenta anos de trabalho no engenho que o preocupam
de verdade. É saber que quando ele largar a atividade, poucos se interessarão.
- Os meus filhos sabem fazer
isso, mas o jeito de viver lá fora é mais fácil. A hora que eu largar isso pode
acabar – lamenta.
Heloiza Abreu
Matéria publicada na edição nº 17 do Jornal Impresso Catarinense.
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